sábado, 17 de setembro de 2011

Consumers International: publicidade agressiva tem impacto negativo na saúde das crianças

Em todo o mundo, estima-se que existam 170 milhões de crianças em idade escolar com problemas de obesidade ou com sobrepeso. Outras 43 milhões de crianças em idade pré-escolar já têm excesso de gordura no corpo. Esta realidade é resultado do consumo de comidas de má qualidade ingeridas cotidianamente e que atinge, cada vez mais, meninos e meninas em todos os países.

Para alertar sobre este problema, a Consumers International está divulgando o Manual de Monitoramento da Promoção de Alimentos dirigida às crianças. A publicação, que está disponível na internet, mostra como funciona a indústria milionária que está por trás desses alimentos e bebidas que, com altos teores de gordura, excesso de sal e açúcar, compromete seriamente a saúde das crianças e adultos.

A aliança com veículos publicitários e de comunicação deixa claro o interesse das grandes indústrias. De acordo com o Manual, a projeção para 2014 é que os investimentos para dar publicidade a esses produtos cheguem a quase 97 bilhões de dólares.

O objetivo do Manual é oferecer informações aos governos nacionais e locais e à sociedade civil, em geral, no monitoramento da exposição e poder das promoções de alimentos para as crianças. Trata-se de um problema urgente, onde cada um tem que exercer sua parte.

Não à toa, a publicação é divulgada um pouco antes da realização da Cúpula das Nações Unidas sobre Enfermidades não Transmissíveis, prevista para acontecer entre 19 a 20 de setembro. A ADITAL conversou com Luke Upchurch, chefe de Comunicações e Assuntos Externos de Consumers International. Confira a entrevista.


Para ler o Manual, em espanhol, vá em:

Para ler o Manual, em espanhol, vá em: http://www.consumersinternational.org/media/802141/manual%20monitoreo.pdf

Manual de monitoreo de la promoción de alimentos dirigida a los niños

Para conhecer mais o trabalho da Consumers International: www.consumersinternational.org 
Adital – A divulgação do guia se dá a poucos dias da Cúpula das Nações Unidas sobre Enfermidades não Transmissíveis. Qual é hoje a abrangência dos prejuízos causados pelo consumo de comidas de má qualidade à saúde, sobretudo, de meninos e meninas?

Luke Upchurch – A publicidade agressiva, dirigida às crianças, de produtos com alto conteúdo de gordura, açúcar ou sal é um fator que está contribuindo para a obesidade infantil, um fator de risco para enfermidades não transmissíveis. Como se tem ouvido de muitas fontes nesse período anterior à Cúpula, as enfermidades não transmissíveis, como as cardiovasculares, distintos tipos de câncer, diabetes e enfermidades respiratórias crônicas, representam aproximadamente 63% das mortes globais, um número verdadeiramente impressionante, não importa quantas vezes seja repetido.

O sobrepeso e a obesidade estão tendo um impacto imediato e negativo na saúde e no bem-estar das crianças, aumentando o risco de enfermidades não transmissíveis na idade adulta. O IOTF (International Obesity Task Force) estima que 170 milhões de crianças em idade escolar têm sobrepeso ou são obesas. Além disso, a OMS estima que 43 milhões de crianças em idade escolar têm excesso de gordura corporal.

Reduzir precocemente a exposição a fatores de risco de ENT na vida é essencial para a saúde futura das crianças em todo o mundo. A taxa de algumas enfermidades não transmissíveis, como diabetes tipo 2, entre as crianças com sobrepeso, já está em aumento em nível mundial.

Adital – Há, certamente, um conflito de interesse por parte das grandes empresas que têm o lucro como objetivo principal. Há projetos de lei que possam colocar a saúde em primeiro plano? Como avalia a participação e ação dos governos diante desse problema?

Luke Upchurch – Pensamos que os governos têm a responsabilidade de proteger a saúde dos consumidores vulneráveis (especialmente crianças), e que tais responsabilidades devem estar na frente do interesse e dos lucros das grandes empresas.

Embora haja exemplos em que os governos tenham promulgado leis para frear a comercialização de alimentos pouco saudáveis para as crianças (por exemplo, Suécia, Reino Unido, Quebec), estas não costumam ser suficientemente amplas. Por exemplo, somente cobrirão determinados canais de propaganda, o que significa que as atividades de propaganda se deslocam muitas vezes para as áreas onde existe menos controle. Ademais, muitas formas novas de comercialização, como as campanhas de internet e de filme tié-ins, cruzam as fronteiras nacionais, evitando assim a legislação nacional.

Esta é a razão por que lançamos este manual em nível mundial – para que possamos rastrear a influência da promoção de comida de má qualidade através das fronteiras e de uma maneira sistemática.

Adital – Qual é o papel que pais e mães devem desenvolver nesse processo do consumo e de produtos de baixa (ou nenhuma) qualidade que têm como alvo seus filhos?

Luke Upchurch – Com certeza, os pais têm a responsabilidade de assegurar que a seus filhos se ofereça uma dieta saudável, mas seus esforços são muitas vezes minados pelas campanhas de marketing sofisticadas e generalizadas de produtos não saudáveis. Por meio de estudos sabemos, por exemplo, que esta publicidade para as crianças influencia nas "birras” que têm por vezes. Além disso, muitos países carecem de regulação acerca do tipo de alimentos que se pode publicizar diretamente às crianças em programas de televisão dirigidos a elas, tais como desenhos animados e os programas televisivos para crianças pela manhã. Os pais teriam que proibir seus filhos de ver televisão! Ainda se fizessem isso, os pais teriam pouco controle sobre a que as crianças estão expostas em outros lugares, como na Internet e inclusive nas escolas. Nosso manual identifica todos estes diferentes canais de comercialização e oferece aos pesquisadores nacionais diretrizes claras que permitam analisar sua influência.

Uma grande quantidade deste tipo de publicidade é enganosa para os pais também e muitas vezes é interpretada como uma indicação de que produtos não saudáveis são bons para seus filhos. De fato, há evidência de que a indústria de alimentos e bebidas está tratando de chegar às crianças por meio de que estas "falem” a seus pais mediante a inclusão das alegações nutricionais e de saúde, frases como "boa fonte de cálcio” ou "bom para o crescimento das crianças”, "dentes e ossos fortes”.

Um exemplo recente inclui um anúncio da Televisão Nutella no Reino Unido (um país com leis de comercialização relativamente rigorosas). No anúncio, se vê pais e crianças tomando café da manhã. A frase abaixo da tela, "Desperta com Nutella”, incentiva as crianças e os pais a pensar que comer Nutella todos os dias no café da manhã é nutritivo e saudável, quando na realidade Nutella tem altos níveis de açúcar (55%) e gorduras saturadas.

Fonte: Adital e RETS

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