quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Apesar de preocupação, brasileiros desconhecem sustentabilidade

Versão para impressãoEnviar para amigoVersão PDF sustentabilidadeEm 1995, um episódio da série televisiva Simpsons mostrava o diálogo da família mundialmente famosa ao comprar uma televisão. Quando a filha pergunta à mãe se não podem levar o aparelho certificado, ela responde: “Filha, você sabe que não podemos pagar produtos com filosofia”.

A ironia da cena, não se atém apenas a uma crítica aos preços dos produtos social e ecologicamente corretos – invariavelmente um pouco mais caros -, mas também ao desconhecimento do americano médio sobre os impactos de seu consumo sobre o planeta. Ao chamar de filosofia esse tipo de responsabilidade, insinua de forma simplista que conceitos como sustentabilidade estão fora do cotidiano das pessoas.
Em 2010, já no Brasil, pesquisa “O Consumidor Brasileiro e a Sustentabilidade: Atitudes e Comportamentos frente o Consumo Consciente, Percepções e Expectativas sobre a Responsabilidade Social Empresarial”, realizada e apresentada pelos institutos Akatu e Ethos, mostrou que o desconhecimento ainda é grande no país.
Segundo o levantamento, a maioria da população brasileira (84%) não ouviu falar ou não entende ou define errado o conceito de Sustentabilidade - apenas 16% dos entrevistados mostraram algum conhecimento ou a própria definição do tema.
A pesquisa ouviu 800 mulheres e homens, com idade igual ou superior a 16 anos, de todas as classes sociais e regiões geográficas do país, nas seguintes localidades: regiões metropolitanas (Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Fortaleza e Belém), capitais (Goiânia e Manaus) e Distrito Federal.
A pesquisa segue o conceito foi criado em 1987, por representantes dos governos membros da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da Organização das Nações Unidas (ONU), que definem ação sustentável como aquela que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem suas próprias necessidades.
Para Helio Mattar, diretor-presidente do Akatu, a dificuldade (da população) de definir o termo se deve ao fato de a Sustentabilidade ser um objetivo, um resultado, condicionado por diversas práticas conjugadas. “Por isso é compreensível que parte dos consumidores, mesmo aqueles considerados conscientes, ainda não tenha se apropriado do termo”.

Paradoxos
Embora não entendam os conceitos, no dia a dia, os consumidores relatam já cuidar da sustentabilidade em ações simples. Por exemplo, cerca de 70% fecham a torneira enquanto escovam os dentes, ou mesmo apagam a luz de ambientes desocupados. Em outra ponta, 24% respondeu que separa o lixo para reciclagem e 33% são atentos aos rótulos dos produtos.
A mesma pesquisa apontou que, entre 2006 e 2010, manteve-se em 5% o percentual da população brasileira que adere a valores e comportamentos mais sustentáveis de consumo. A quem o Instituto Akatu chama de consumidores conscientes. Considerando-se o aumento populacional nesse período, houve um crescimento de cerca de 500 mil consumidores conscientes.
No entanto, houve um aumento em 12 pontos percentuais (de 25% para 37% do total) o segmento de consumidores mais distante destes valores e comportamentos, o grupo dos consumidores chamado de “Indiferente”.
A maior queda foi registrada em comportamentos ligados à economia e ao planejamento. Práticas como evitar deixar lâmpada acesa em ambientes desocupados, que eram realizadas por 77% da população brasileira em 2006, hoje são por 69%. O planejamento de compras de alimentos é praticado por 48% da população, há quatro anos, esse comportamento era adotado por 55%.
Segundo, o consultor do Instituto Akatu, Aron Belinky, isso pode ser explicado, pois houve um crescimento no número da população com poder aquisitivo no Brasil nos últimos anos e esse fator “interfere diretamente na avaliação dos comportamentos de consumo”.
A pesquisa aponta que “para ganhar corações e mentes dos consumidores, a sustentabilidade precisa ser apresentada não como conceitos sofisticados, mas traduzidos em práticas e propostas concretas. Tem que ser vista como o caminho mais curto, barato e desejável rumo à felicidade”.

Otimismo
Outro estudo, este realizado pelo Grupo HSBC, divulgado em dezembro de 2010, mostrou que 56% dos brasileiros estão otimistas em relação às mudanças climáticas e acreditam que isso pode gerar oportunidades de emprego e prosperidade para o país. Com o nome de Climate Confidence Monitor, a pesquisa, anual, aborda quatro eixos relacionados às Mudanças Climáticas: as preocupações das pessoas com o tema, sua confiança e comportamento, além da redução das emissões de CO2.
“Os resultados desta pesquisa demonstram a preocupação da sociedade com o tema e revela que mesmo de forma individual, muitas pessoas já estão se mobilizando para conter as mudanças climáticas”, explicou, na época, a superintendente-executiva de sustentabilidade do HSBC, Claudia Malschitzky.
A pesquisa indica que 82% dos entrevistados globalmente já fazem coleta seletiva dos resíduos produzidos em casa, 70% adotam alternativas domésticas que reduzam o consumo de energia e 65% dirigem seus automóveis cuidadosamente a fim de usar menos combustível.
Ainda relacionado ao comportamento individual, foi analisada a questão dos "produtos verdes". E o brasileiro é o povo mais propenso a adquiri-los, sendo que 36% os comprariam se sentissem que o produto faria uma diferença positiva.
O levantamento foi feito com 15 mil pessoas de 15 países - Alemanha, Austrália, Brasil, Canadá, China, Estados Unidos, França, Hong Kong, Índia, Inglaterra, Japão, Malásia, México, Singapura e Vietnã. Entre os principais resultados globais, as mudanças climáticas aparecem como terceiro item de maior preocupação da sociedade mundial, após a instabilidade econômica e a violência.

Ainda sobre os Simpsons
Segundo pesquisa do Instituto Akatu, entre dois produtos com preço e qualidade semelhantes, 71% dos consumidores brasileiros decidem levar para casa aquele que possuir alguma causa social. A média mundial seria de 43%.
“O consumidor não confia de forma simples em uma instituição, mas utiliza-se de um julgamento minucioso de atributos que, ao serem combinados, resultam na escolha da marca com a qual se relacionará. Essa interação é marcada por experiências pessoais e atribuição de sentimentos, incorporando um conjunto de valores e atributos que leva o consumidor a diferenciar uma marca da outra”, acredita o diretor executivo do Instituto Camargo Corrêa, Francisco Azevedo.

Fonte; Gife
Por Rodrigo Zavala, editor de Conteúdo do GIFE, com informações do Insituto Akatu

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