Ao tomar posse na
presidência do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
(Consea), órgão consultivo do governo, a antropóloga Maria Emília Lisboa
Pacheco, manifestou sua preocupação com a desnutrição nas comunidades
indígenas e quilombolas no Brasil. Ela citou duas medidas que, em sua
avaliação, ameaçam o direitos à alimentação dessas populações.
Segundo a nova presidenta
do Consea, a aceitação, pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ)
da Câmara, da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215, que transfere
para o Legislativo a competência pela demarcação e pela homologação de
terras indígenas e quilombolas, prejudica essas comunidades. Atualmente,
essa competência é do Poder Executivo. Há duas semanas, a
admissibilidade da proposta foi aprovada sob pressão da bancada
ruralista.
Outra medida citada por
Maria Emília, foi a da Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin)
3.239, que deverá ser votada amanhã (18) pelo Supremo Tribunal Federal
(STF). A ação foi proposta pelo DEM e contesta o Decreto 4.887 de 2003
que regulamenta a demarcação das terras ocupadas por integrantes
remanescentes de comunidades quilombolas.
"Os índices de desnutrição entre os povos indígenas continuam altos e,
mais recentemente, vem sendo diagnosticados casos de doença beri-beri
[provocada pela falta de vitamina B1 no organismo, causando fraqueza
muscular e dificuldades respiratórias] em várias etnias em Roraima. A
situação das comunidades quilombolas também preocupa. Os conflitos
territoriais e as dificuldades de acesso às políticas são obstáculos à
segurança alimentar", destacou.
Durante a cerimônia, com a presença da presidenta Dilma Rousseff, no
Palácio do Plantalto, Maria Emília também disse que reconhecia os
avanços dos últimos anos para muitos segmentos sociais, mas enfatizou
que há riscos de retrocesso. "Vivemos tempos de grandes desafios,
contradições e riscos de desconstrução de conquistas", declarou, e
cobrou que o Estado brasileiro respeite as convenções internacionais que
tratam dos direitos das comunidades tradicionais.
"O nosso apelo senhora presidenta [Dilma Rousseff], fazendo coro às
vozes dessas populações, é zelar pelo cumprimento da Constituição
Federal e de outros instrumentos internacionais como a Convenção 169 da
Organização Internacional do Trabalho [OIT], da qual o Brasil é
signatário, de proteção aos direitos indígenas, dos quilombolas e demais
povos tradicionais”, ressaltou.
Maria Emília substitui Renato Maluf que, em seu discurso de despedida,
criticou a situação brasileira de ser o "campeão mundial no uso de
agrotóxico e na permissão de produção de produtos transgênicos. "É uma
condição que a população brasileira vem sentindo", disse.
Por Luciana Lima, da Agência Brasil
Fonte: RETS
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