Por Marcio Santilli, do ISA
Um queijo suíço, apodrecido! Assim se poderia resumir o relatório apresentado pelo Deputado Paulo Piau (PMDB-MG) para a etapa final da votação do novo Código Florestal no Congresso Nacional.
Não havendo condições
políticas para a rejeição pura e simples do substitutivo aprovado pelo
Senado, Piau propõe a supressão de 21 dispositivos que retiram da lei
todos os princípios e várias das definições dos tipos de áreas passíveis
de conservação, todas as extensões de APPs (Áreas de Preservação
Permanente), a competência do Ibama (Instituito Brasileiro do Meio
Ambiente) para proteger espécies ameaçadas de extinção, os instrumentos
que restaram para a proteção parcial de veredas, apicuns e áreas de
pousio, além de recusar a destinação de parte do pagamento pelo uso da
água para a recuperação de matas ciliares.
Como nessa etapa do
processo legislativo não é mais possível à Câmara dos Deputados
introduzir no texto legal novas formulações, cabendo-lhe apenas aprovar
ou rejeitar o que já tenha sido aprovado por uma das casas do Congresso,
caso as supressões sugeridas sejam acolhidas, a nova lei simplesmente
passará a não dispor sobre essas questões, resultando basicamente numa
lei de anistia total aos desmatadores. Segundo Piau, caso o governo
considere indispensável suprir as lacunas, poderia vir a editar uma nova
medida provisória.
Seguindo orientação da
bancada ruralista, Piau desenvolve um raciocínio contraditório e
tortuoso para defender o “queijo suíço”. Quando sugere a supressão de
qualquer obrigação de recuperação de APPs em qualquer propriedade, ele
afirma que não se trata de anistia, pois os proprietários rurais teriam
que apresentar e negociar com o órgão ambiental local, no prazo de cinco
anos, um “plano de regularização” que poderia prever algum tipo de
recuperação, “se necessária”. Porém, quando tenta justificar a supressão
da condição desta regularização para acesso futuro ao crédito rural,
afirma que “o governo não será capaz de implementar tais planos e o
cadastro ambiental rural no prazo previsto na nova lei".
O relatório de Paulo Piau
deixa a presidente Dilma Rousseff muito mal. Demonstra que a bancada
ruralista não honrará o acordo supostamente feito no Senado para atenuar
alguns dos aspectos mais desastrosos da proposta anteriormente aprovada
na Câmara. Continuará chantageando o governo e o país, condicionando os
seus votos em qualquer decisão do Legislativo à aniquilação de qualquer
medida de controle ou que estabeleça responsabilidades de caráter
socioambiental para proprietários rurais. Sua eventual aprovação
obrigará a presidente a exercer o seu direito de veto, às vésperas da
Rio+20.
Em síntese, um relatório com cara de pau!
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