terça-feira, 24 de abril de 2012

ARTIGO

MINHA EXPERIÊNCIA COM DOM ROBINSON CAVALCANTI

            Conheci o Robinson Cavalcanti em outubro de 1996, quando eu ainda era um estudante de teologia no Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil, no primeiro ano de curso. Na ocasião, eu estava organizando uma semana de debates na Igreja Batista em Afogados sobre a Reforma Protestante e convidei o Robinson para ser um dos palestrantes. Já o admirava pelo que lia nos livros e artigos que escrevia. Porém, naquele primeiro encontro pessoal, passei a admirá-lo ainda mais pela sua simplicidade. Mesmo sendo um teólogo e cientista político renomado, Robinson me tratou como um velho amigo. Algumas horas antes do início da palestra, ele convidou a mim e a meu amigo Lenine Gondim, também aluno do curso de teologia, para jantarmos num pequeno restaurante da Boa Vista, querendo conversar conosco, n os conhecer mais de perto. O gesto de gentileza e simplicidade do Robinson quebrou a formalidade com a qual o estávamos tratando e tocou profundamente os dois seminaristas.
            Depois daquele dia, continuamos nos encontrando em outras ocasiões, sobretudo nos eventos promovidos pela Fraternidade Teológica Latino-Americana (FTL) e nos fóruns de discussão sobre política, igreja e sociedade que costumavam acontecer em Recife e Maceió. Sempre que nos encontrávamos, Robinson tinha o cuidado de me perguntar sobre como eu estava, o que eu andava fazendo... Era o cuidado de um mestre por um jovem dando os primeiros passos na carreira teológica e nas atividades pastorais.
Quando eu me casei, Robinson convidou-me, juntamente com Keila, minha esposa, para participar de uma celebração que ele realizava todos os domingos à tarde nas dependências de uma sorveteria que ficava na Praça do Entroncamento, no centro do Recife. Lembro-me bem da recepção calorosa dele e das orações que fez para que minha vida conjugal fosse feliz. Lembro-me também da forma como conduziu a celebração: após a sua mensagem, ele abriu um espaço para que os participantes debatessem o conteúdo que foi explanado. Eu, que estava acostumado com aquelas celebrações onde o pastor fala e as pessoas apenas ouvem, fiquei encantado com aquela metodologia participativa, que permitia a todos e todas expressarem publicamente suas opiniões, considerações e contribuições ao que foi falado pelo pastor.
O tempo passou e Robinson se tornou o Dom Robinson Cavalcanti, bispo da Igreja Anglicana. Fiquei feliz em vê-lo em tal posição. No entanto, não demorou muito e comecei a discordar de alguns dos seus posicionamentos, principalmente no que se refere à forma como ele tratou as questões ligadas à homossexualidade. Robinson assumiu uma postura bastante conservadora sobre o tema, enquanto que eu tinha opiniões não muito convencionais no meio protestante acerca do assunto. Nossos encontros passaram a ser raros, mas o respeito mútuo permaneceu.
A última vez que o vi foi em 2008. Na ocasião, conversamos rapidamente. Como sempre, ele me perguntou: “Como você está? O que anda fazendo?” Falei que continuava militando pela causa dos direitos das crianças e adolescentes. Ele me ouviu com atenção, bateu em meu ombro e disse: “Não pare não, viu?” Daquele dia em diante, não tive mais oportunidade de revê-lo pessoalmente. Na manhã do dia 27 de fevereiro de 2012, sentado à frente da televisão, fui pego de surpresa com a notícia de que ele e sua esposa, Mirian, foram brutalmente assassinados pelo filho. Fiquei atônito e senti um grande vazio.
Com o Robinson, aprendi uma coisa: os grandes mestres não são aqueles que falam coisas para ficarmos concordando o tempo todo. Os grandes mestres são aqueles que têm o poder de ensinar, mesmo quando deles discordamos.
Vai em paz, Robinson.

Reginaldo José da Silva(Pastor batista, membro da Igreja Batista na Cidade Evangélica dos Órfãos e assessor de projetos sociais na Kindernothilfe - KNH Brasil Nordeste)

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