MINHA EXPERIÊNCIA COM DOM ROBINSON CAVALCANTI
Conheci
o Robinson Cavalcanti em outubro de 1996, quando eu ainda era um
estudante de teologia no Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil,
no primeiro ano de curso. Na ocasião, eu estava organizando uma semana
de debates na Igreja Batista em Afogados sobre a Reforma Protestante e
convidei o Robinson para ser um dos palestrantes. Já o admirava pelo que
lia nos livros e artigos que escrevia. Porém, naquele primeiro encontro
pessoal, passei a admirá-lo ainda mais pela sua simplicidade. Mesmo
sendo um teólogo e cientista político renomado, Robinson me tratou como
um velho amigo. Algumas horas antes do início da palestra, ele convidou a
mim e a meu amigo Lenine Gondim, também aluno do curso de teologia,
para jantarmos num pequeno restaurante da Boa Vista, querendo conversar
conosco, n
os conhecer mais de perto. O gesto de gentileza e simplicidade do
Robinson quebrou a formalidade com a qual o estávamos tratando e tocou
profundamente os dois seminaristas.
Depois
daquele dia, continuamos nos encontrando em outras ocasiões, sobretudo
nos eventos promovidos pela Fraternidade Teológica Latino-Americana
(FTL) e nos fóruns de discussão sobre política, igreja e sociedade que
costumavam acontecer em Recife e Maceió. Sempre que nos encontrávamos,
Robinson tinha o cuidado de me perguntar sobre como eu estava, o que eu
andava fazendo... Era o cuidado de um mestre por um jovem dando os
primeiros passos na carreira teológica e nas atividades pastorais.
Quando
eu me casei, Robinson convidou-me, juntamente com Keila, minha esposa,
para participar de uma celebração que ele realizava todos os domingos à
tarde nas dependências de uma sorveteria que ficava na Praça do
Entroncamento, no centro do Recife. Lembro-me bem da recepção calorosa
dele e das orações que fez para que minha vida conjugal fosse feliz.
Lembro-me também da forma como conduziu a celebração: após a sua
mensagem, ele abriu um espaço para que os participantes debatessem o
conteúdo que foi explanado. Eu, que estava acostumado com aquelas
celebrações onde o pastor fala e as pessoas apenas ouvem, fiquei
encantado com aquela metodologia participativa, que permitia a todos e
todas expressarem publicamente suas opiniões, considerações e
contribuições ao que foi falado pelo pastor.
O
tempo passou e Robinson se tornou o Dom Robinson Cavalcanti, bispo da
Igreja Anglicana. Fiquei feliz em vê-lo em tal posição. No entanto, não
demorou muito e comecei a discordar de alguns dos seus posicionamentos,
principalmente no que se refere à forma como ele tratou as questões
ligadas à homossexualidade. Robinson assumiu uma postura bastante
conservadora sobre o tema, enquanto que eu tinha opiniões não muito
convencionais no meio protestante acerca do assunto. Nossos encontros
passaram a ser raros, mas o respeito mútuo permaneceu.
A
última vez que o vi foi em 2008. Na ocasião, conversamos rapidamente.
Como sempre, ele me perguntou: “Como você está? O que anda fazendo?”
Falei que continuava militando pela causa dos direitos das crianças e
adolescentes. Ele me ouviu com atenção, bateu em meu ombro e disse: “Não
pare não, viu?” Daquele dia em diante, não tive mais oportunidade de
revê-lo pessoalmente. Na manhã do dia 27 de fevereiro de 2012, sentado à
frente da televisão, fui pego de surpresa com a notícia de que ele e
sua esposa, Mirian, foram brutalmente assassinados pelo filho. Fiquei
atônito e senti um grande vazio.
Com
o Robinson, aprendi uma coisa: os grandes mestres não são aqueles que
falam coisas para ficarmos concordando o tempo todo. Os grandes mestres
são aqueles que têm o poder de ensinar, mesmo quando deles discordamos.
Vai em paz, Robinson.
Reginaldo José da Silva(Pastor
batista, membro da Igreja Batista na Cidade Evangélica dos Órfãos e
assessor de projetos sociais na Kindernothilfe - KNH Brasil Nordeste)
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