sábado, 1 de outubro de 2011

NORDESTE, CRESCIMENTO MAIS RÁPIDO

Abelardo Baltar*

Muito boa a entrevista do economista Cícero Péricles de Carvalho sobre o Nordeste, logo no início do Governo Dilma. Cícero afirmou com ênfase que o Nordeste precisa acelerar o desenvolvimento nessa “Era Dilma”, pois só assim as diferenças regionais poderão diminuir significativamente nas próximas décadas. Se o Nordeste conseguir crescer um ponto percentual a mais que o Brasil, por ano, o PIB per-capita de ambos será o mesmo em 2054, diz Cícero com base em  estudo do BNB de autoria de Biágio de Oliveira, publicado através do ETENE.

Para que isso aconteça a Região necessitaria receber investimentos superiores a 60 bilhões de reais, reajustáveis ano a ano. Se o investimento for maior, a partir 66,8 bilhões em 2011 (com reajustes anuais) a convergência dos PIBs pode se dar 27 anos mais cedo - seríamos iguais em 2025. Portanto, a rapidez desse encontro depende do nível do que for investido na Região daqui para a frente, admitindo-se que as taxas de investimento, no País como um todo, não se alterem.

Claro que se trata de uma formulação teórica e ilustrativa, até porque a taxa de investimento total da economia brasileira deve aumentar proporcionalmente nas próximas décadas, sob pena do País “emperrar”. Cerca de 20% do PIB é muito pouco, sobretudo quando se sabe que os outros emergentes importantes investem o dobro desse percentual. Então aqueles 60 bilhões de reais  é mais um “número simbólico”.  

Na opinião de Cícero Péricles, a proposta politicamente mais significativa para o Nordeste, feita pelo atual governo, é combater a pobreza extrema. E Dilma se refere sempre a esse programa. O problema regional nordestino persiste, apesar dos avanços econômicos e sociais das últimas décadas. Enfatiza Cícero.  “Não é à toa que, num conjunto de 16,1 milhões de famílias vivendo no Nordeste, 6,5 milhões de famílias recebem dinheiro do Bolsa Família e 7,5 milhões sejam beneficiários da Previdência Social.

Há uma clara percepção entre os dirigentes nacionais que o Brasil não poderá avançar economicamente e socialmente sem que o Nordeste se desenvolva mais rápido que as demais  reais regiões do País. Deste modo, seguramente a Região nordestina continuará recebendo um tratamento especial do Governo Federal. “É importante que o leitor entenda que não se deve somar os 6,5 milhões citados aos 7,5 milhões citados posteriormente. Muitas das famílias que têm pessoas que recebem remuneração da Previdência são contempladas pelo Bolsa Família. O que define a família ser contemplada por esse Programa é o per capita da referida família. Então, pode-se concluir que tem muito mais de 3 milhões de famílias que não têm nenhum membro beneficiado pela Previdência, nem recebem Bolsa Família. São, na sua maioria, as famílias que constituem as classes A, B e grande parte da C.

Para Cícero Péricles, se levarmos em conta os problemas centrais da economia nordestina - pobreza, desigualdade de renda e indicadores sociais negativos -, formam um conjunto diagnosticado e já conhecidos, a política ideal é aquela que combine diversos instrumentos capazes de superar os problemas que travam o desenvolvimento regional.

De qualquer maneira, nessa primeira década do novo século, o Nordeste, com 80% da população urbanizada, atravessa uma fase de crescimento que já gerou três milhões de novos empregos formais e, beneficiado pelos recursos sociais, assiste a uma explosão de consumo sustentado, em grande parte pelos segmentos de baixa renda que dinamizam os setores relacionados a este consumo: o comércio no varejo e a indústria de bens populares.

Neste novo cenário, a pobreza e a miséria vêm diminuindo, abrindo espaço para que o Nordeste cresça mais rápido, aproximando-se, mesmo que lentamente, da média nacional. O combate à pobreza extrema, não custa repetir, é decisivo para o Nordeste, pois é nessa Região em que vivem a maior parte dos que estão situados abaixo da linha da pobreza, segundo os critérios dos órgãos internacionais.

*Economista.

Fonte: Folha de Pernambuco

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