segunda-feira, 3 de setembro de 2012

MAIS UM. APENAS MAIS UM

 MAIS UM. APENAS MAIS UM
           
O título da reportagem que abre o caderno “Vida Urbana” do Diario de Pernambuco de hoje, 03 de setembro de 2012, diz muita coisa: “MAIS UM JOVEM MORTO NO CASE”. Sim, mais um. Para muita gente, apenas mais um.
Wilker Vieira de Lima, 16 anos, assaltou uma van. A mãe, confiante de que o Estado teria condições de contribuir para que esse adolescente voltasse a ter um convívio pacífico com a sociedade, o entregou à polícia. Wilker foi levado ao CENIP (Centro de Internação Provisória). Depois foi transferido para o Centro de Atendimento Socioeducativo (CASE) de Abreu e Lima. Estava lá há apenas três dias. Ontem, 02 de setembro de 2012, uma rebelião estourou nessa unidade que é um verdadeiro “barril de pólvora” (capacidade para 90 internos, mas com 272 adolescentes e jovens internados e sem nenhum planejamento pedagógico eficaz). Wilker foi morto a pauladas, teve o corpo jogado numa fogueira, foi decapitado e os seus pés foram decepados. Tornou-se a quinta vítima fatal desse cruel Sistema Socioeducativ o de Pernambuco: 10 de janeiro de 2012 – três jovens morreram queimados no CASE do Cabo de Santo Agostinho (um deles foi decapitado); 28 de maio de 2012 – um jovem foi morto a pauladas no CASE de Abreu e Lima. Agora, foi a vez de Wilker. Se fizermos uma retrospectiva de anos anteriores, esse número aumenta. Se contarmos com as diversas outras violações de direitos que acontecem nas unidades de internação, aí é que o número de vítimas aumenta mesmo.
Irismar Vieira de Lima, a mãe de Wilker, ouviu do filho, em sua última conversa com ele, que o mesmo estava com medo do que andava vendo na unidade. Como terá sido o olhar de Wilker para ela ao dizer isso? Certamente não foi o olhar de uma criança que acorda assustada à noite, com medo do escuro, e grita: “Mãe, estou com medo!”. Ela deve ter visto em seu olhar o medo da morte. E pior, sem condições de levá-lo para o seu aconchego, para os seus braços, pois confiou que o Estado o protegeria. Tarde demais. O Estado de Pernambuco, mais uma vez, provou, com o derramamento do sangue de Wilker, sua incompetência para com o processo de ressocialização dos adolescentes em conflito com a lei.
Prá muita gente, lá dentro do governo, Wilker foi a penas mais um. Deixa prá lá o cumprimento do cronograma e do orçamento do Plano Estadual de Reordenamento do Sistema Socioeducativo, basta anunciar nas TVs e publicar nos jornais que o assunto será investigado, que está tudo certo. O povo “engole”. A prioridade, neste momento, é eleger Geraldo Júlio. Como bem questionou Silvino Neto, um dos coordenadores do Fórum Estadual de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de Pernambuco: “Alguém sabe dos resultados das investigações sobre as outras mortes?”
Wilker foi apenas mais um para tantos e tantas que vivem dizendo que “esses meninos da FUNASE têm mesmo é que se lascar” e para aqueles que não dizem isso com palavras, mas o dizem com o silêncio conivente.
Wilker foi apenas mais um para alguns representantes da nossa sociedade civil “organizada”, que preferem ficar numa contraditória quietude e numa funesta estratégia para não criar atritos com um governo “parceiro”.
Mais um. Apenas mais um? Até quando? Governador Eduardo Campos, queremos ouvi-lo. O senhor está muito calado em relação a este assunto.

Reginaldo José da Silva
(Membro da Coordenação do Fórum Estadual de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de Pernambuco e Assessor de Projetos Sociais da Kindernothilfe) 

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