quarta-feira, 23 de maio de 2012

VIGÍLIA


Lembranças.
Impossível ser percebido ao nascer;
Seu primeiro brinquedo? Brincar com barquinhos de papel
nas águas não saneadas da comunidade.
Na infância, a escola sem qualidade.
Mas que permitia a ele pegar uma merenda escolar
e a bolsa família.
Apoio? Nem familiar, nem comunitário.
No primeiro furto começa a chamar atenção
Nos próximos a aproximação
Não foi a família, nem a igreja, nem o Estado.
Mas o traficante
Esse próximo lhe “acolheu” em troca de um “trabalho fácil”.
E começaram os atos infracionais; Quando o erro foi grave, a comunidade, a igreja e o Estado gritaram em uma só voz:
Crucifica-o!
Poucos até tentaram convencê-los que havia alternativas
Mas eles gritavam mais alto, tirem da nossa cidade.
E absolutamente só, foi encaminhado para uma unidade de internação do Estado.
Por um bom tempo esteve lá, esquecido.
Mas, um dia ouviram a notícia: Num dia de abril de 2010.
Aconteceu uma rebelião e um jovem de dezesseis anos
Foi morto. Crucificado na trave da quadra de esportes
Cravaram uma madeira com ponta em seu corpo
Diferente de outro companheiro, não foi decapitado.
Foi crucificado.
Não havia forma alguma em seu rosto
Reputado como o pior ser humano
e como raiz de uma terra seca; não tinha beleza nem formosura e, olhando nós para ele, não havia boa aparência  para que o desejássemos.
Para sua comunidade, alívio.
Mas ele foi ferido e morto por causa das nossas omissões, e moído por causa do descaso de diversos governos.
Não houve defesa nem depois de sua morte
Não houve um só pronunciamento das autoridades a seu favor
Coloquem guardas para vigiar seu corpo! Não permitam que divulguem!
Enquanto isso, outros mortos, queimados e decapitados.
Blasfêmia?
Blasfêmia.
Até quando?

Silvino Neto

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