terça-feira, 29 de maio de 2012

OS DANOS MÍNIMOS DA REBELIÃO NO CASE DE ABREU E LIMA

Ontem, 28 de maio de 2012, por volta das 15h, aconteceu o que já vinha sendo anunciado há vários meses: estourou uma rebelião no CASE (Centro de Atendimento Socioeducativo) de Abreu e Lima. Resultado do ocorrido: um adolescente de 16 anos foi morto a pauladas e um agente socioeducativo foi ferido na cabeça e encontra-se em estado grave no Hospital Miguel Arraes. Segundo o Diario de Pernambuco de hoje (29/05/12), a FUNASE (Fundação de Atendimento Socioeducativo) se pronunciou afirmando que os danos foram mínimos. Como assim? Um adolescente morreu e um agente socioeducativo corre risco de morte e os danos foram mínimos? É de assustar a declaração da FUNASE, mas esta declaração é o reflexo da forma como o Governo do Estado de Pernambuco tem tratado o caos estabelecid o no Sistema Socioeducativo pernambucano.
Não precisa ir muito longe na cronologia para lembrar que o que ocorreu ontem em Abreu e Lima é fruto de um processo que já vinha acontecendo. Há pouco mais de um ano, uma rebelião estourou na mesma unidade, às vésperas da semana santa, e um adolescente foi crucificado (isso mesmo, crucificado) numa das traves da quadra, além de ter sido queimado e transpassado por uma barra de ferro. O nosso “governo de esquerda”, peocupadíssimo com os direitos humanos, agiu paliativamente. Os atrasos na execução do Plano de Reordenamento do Sistema Socioeducativo do Estado de Pernambuco mantiveram o CASE de Abreu e Lima superlotado (atualmente a unidade tem 296 adolescentes, mas tem capacidade para 93), sem projeto pedagógico eficiente e repleto de profissionais despreparados e mal remunerados. Neste ano, o Ministério Público de Pernambuco vistoriou o CASE de Abreu e Lima. Encontrou uma sala de tortura montada, com porretes identificados pelos seguintes nomes: ECA, Direitos Humanos etc. Mais uma vez, o governo toma medidas paliativas, afastando agentes, mas mantendo a estrutura falida. Há 27 dias atrás, no dia 2 de maio, uma rebelião estourou na referida unidade, deixando um adolescente ferido. Na ocasião, revelou-se que outros adolescentes estavam marcados para morrer lá dentro.
Várias organizações da sociedade civil avisaram ao governo que não ia demorar para mais mortes acontecerem no CASE de Abreu e Lima. O Fórum Estadual de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente e o Fórum Socioeducativo de Pernambuco, com suas vigílias, audiências públicas, dossiê e inúmeras declarações em jornais e telejornais, avisaram, avisaram, avisaram... As respostas do governo, através de representantes do governador, pois o mesmo não tem aparecido em público para falar sobre esta situação de caos, vêm em forma de gritos, batidas em mesa, ausências em audiências públicas, “investigações” sobre as atividades de quem está se mobilizando para mudar a situação e declarações narcisistas típicas de quem tem um governador “de esquerda” com mais de 80% de aprovação. Não é de estranhar que um governo que se comporta assim diante da falência do Sistema Socioeducativo de Pernambuco afirme que os danos ocorridos ontem no CASE de Abreu e Lima foram mínimos. Não foi nada, apenas um adolescente morreu a pauladas. Não foi nada, apenas um agente socioeducativo encontra-se em estado grave. Outras mortes poderão vir, mas isso não é nada. Quem é que está morrendo mesmo?
Dia 10 de janeiro de 2012, rebelião no CASE do Cabo de Santo Agostinho, três jovens foram queimados e mortos, sendo um decapitado. 28 de maio de 2012, rebelião no CASE de Abreu e Lima, um adolescente morto por espancamento e um agente socioeducativo internado em estado grave. Danos mínimos para os setores da sociedade civil (ou servil?) preocupados em não incomodar o companheiro Eduardo Campos. Danos mínimos para um governo que agora deve estar muito preocupado com a suspensão do contrato da Transpetro com o Estaleiro Atlântico Sul. Danos irreversíveis para as famílias dos mortos. Porta aberta para que a violência e o desrespeito aos direitos humanos continuem assombrando a sociedade pernambucana.

Reginaldo José da Silva
(Assessor de Projetos da Kindernothilfe – KNH Brasil Nordeste – e membro da Coordenação do Fórum Estadual de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente)

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