Foram quatro dias de muita discussão, elaboração de propostas e votações. A princípio, nada diferente do processo de uma conferência. Mas bastava circular entre as quase 3 mil pessoas que estavam em Brasília (DF), entre os dias 11 e 14 de julho, para ver que o ambiente da 9ª Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente era diferente, pois entre os delegados eleitos pelos Estados, mais de 800 eram adolescentes de 12 a 18 anos. Eles ajudaram a construir propostas que embasarão a Política Nacional e o Plano Decenal dos Direitos da Criança e do Adolescente.
A Conferência foi construída sob 5 eixos estratégicos: 1) Promoção dos Direitos de Crianças e Adolescentes; 2) Proteção e Defesa dos Direitos,3) Protagonismo e Participação de Crianças e Adolescentes, 4) Controle Social da Efetivação dos Direitos, 5) Gestão da Política Nacional dos Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes.
Neste ano, o objetivo geral da Conferência era mobilizar grupos que constituem o sistema de garantia de direitos e a população em geral para implementação e monitoramento da política e do plano.
Cobertura
A inovação da metodologia deste ano não foi apenas na inclusão das(os) adolescentes na comissão organizadora de todas as etapas da Conferência: nacional, estaduais, distrital e municipais e no grupo de delegadas(os), mas também pela cobertura educomunicativa, uma construção inédita entre o Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente) e os Estados, que permitiu o registro “jornalístico” das Conferências Estaduais DCA e etapa nacional a partir da visão do próprio adolescente. Cerca de 18 integrantes de cada Estado receberam a oficina de planejamento e das linguagens texto, áudio, vídeo e fotografia que foram apresentadas nos formatos de jornal mural, tv de bolso, fanzine, programetes de rádio, exposição e site/blog. Dois adolescentes de cada estado foram selecionados para cobrir a etapa nacional que contou ainda com a participação de adolescentes do Programa Vira Vida, do SESI. Ao todo, o número de envolvidos chegou a quase 500 em todo o País.
A cobertura educomunicativa, além de utilizar técnicas do jornalismo, é principalmente uma reflexão socioeducativa de formação e mobilização de crianças e adolescentes – para, pelo e com eles – que passa pelas discussões sobre democracia, direitos sociais do cidadão, educação para a paz e de solidariedade entre os povos. Ou seja, constrói uma comunicação fundamentada entre princípios e valores humanistas. Esta é o que podemos chamar de “essência” da Educomunicação cujo referencial teórico-metodológico está centrada em Paulo Freire. A prática tem como maior preocupação o processo de discussão na feitura dos produtos e, para tanto, que os procedimentos sejam executados de forma colaborativa. “A cobertura educomunicativa foi sem dúvida uma aposta muito acertada de todos os agentes envolvidos. Possibilitou um processo rico de aprendizados tanto para os adolescentes, quanto para os educadores, conselheiros, servidores, envolvidos nesta ação. Criou um espaço de intervenção criativa e positiva para que os adolescentes contassem a história desta conferência a partir de suas experiências”, avalia Vânia Correia, jornalista educomunicadora, da Viração.
Nesse sentido, as crianças e os adolescentes são protagonistas da cobertura e apresentam ao mundo suas opiniões sobre os temas abordados nas conferências. Aprenderam a fazer o planejamento de uma cobertura, a levantar dados para suas produções, a debater suas opiniões, a perceber a importância dos momentos de escuta, a se comunicar com as pessoas, principalmente as que não estiveram nos eventos, pensando em como mobilizá-las. “Foi uma experiência sem palavras. Eu não achei que poderia mudar meu modo de pensar sobre a vida em uma semana e vi que, sim, os adolescentes podem mudar o nosso País porque hoje há jovens com um novo pensamento, que querem mudar o Brasil. Depois dessa Conferência eu quero lutar para ajudar nessa mudança”, conta Joaquim Oliveira Moura, 17 anos, um dos adolescentes educomunicadores do Rio Grande do Sul.
A cobertura educomunicativa foi uma iniciativa do Conanda em parceira com a Secretaria Nacional dos Direitos Humanos. A execução dos trabalhos ficou por conta da Viração Educomunicação e da Rede Andi Brasil. Contou com o patrocínio da Fundação Telefônica e do Sesi.
O conteúdo produzido pelas(os) adolescentes nas etapas estaduais e na 9ª Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente pode ser coferido na Agência Jovem de Notícias (www.agenciajovem.org).
Fonte: Agência Jovem de Notícias e Pró-Menino
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