A exploração sexual de meninos no Brasil está relacionada com a homofobia (qualquer tipo de discriminação ou aversão aos homossexuais). Segundo os especialistas, adolescentes homossexuais costumam ser vítimas fáceis das redes de aliciamento da internet, quando fogem da violência e do preconceito recebidos dentro da própria casa e na comunidade. “Eles sofrem bullying na escola, rejeição de familiares e violência nas ruas, principalmente nas cidades do interior ou do Nordeste brasileiro, onde os padrões de comportamento são mais rígidos e tradicionais”, afirma o psicólogo Ricardo Castro, coordenador executivo do Instituto Papai, de Recife, em Pernambuco. “Como abandonam muito cedo os estudos, ao serem rechaçados na escola, e sem nenhum apoio familiar, eles, no máximo, conseguem ser aceitos como cabeleireiros, mas geralmente acabam indo para as ruas, atraídos pelas promessas da internet”’, afirma o psicólogo Ricardo Castro, coordenador executivo do Instituto Papai.
O pesquisador cita a reportagem publicada, em fevereiro deste ano, no jornal O Globo, do Rio de Janeiro, que mostrou meninos explorados sexualmente por meio das redes de relacionamento da internet no Ceará, no Rio Grande do Norte e no Piauí, depois de passarem por modificações no corpo, colocando prótese e silicone para se tornarem femininos e serem comercializados nas ruas de São Paulo e em países da Europa. Na capital paulista junto com travestis adultos eles começam a ser explorados sexualmente em pontos tradicionais de prostituição transexual: Indianópolis, Avenida Cruzeiro do Sul, na Zona Norte, e também na Avenida Industrial, no município de Santo André, no ABC paulista.
Os adolescentes precisam enviar uma foto por e-mail e, se passarem na avaliação da rede de aliciamento, têm a passagem paga e recebem inicialmente megahair e hormônios femininos e, com o tempo, também colocam silicone no peito.
Segundo Ricardo Castro, o aliciamento de meninos é um mercado que envolve muito dinheiro do qual faz parte uma forte rede internacional com traficantes, cafetinas, policiais, pousadas e hotéis. Ele cita casos em São Paulo de taxistas que mostram folheto no porta-luvas oferecendo menores. “Pedi informação de uma pizzaria um dia para um guarda e ele logo foi perguntando se não tinha interesse em uma casa de prostituição, se isso ocorre nas grandes capitais, imagina no resto do Brasil”.
Para o psicólogo Marcos Nascimento, pesquisador na área de gênero e sexualidade, com doutorado em saúde pública, fala-se muito mais no Brasil da exploração sexual com meninas, mas é preciso estudar e divulgar também o comércio sexual de meninos, especialmente dos adolescentes homossexuais e travestis. “Eles são os que mais sofrem preconceito da sociedade, porque seu comportamento é visto como falta de caráter e safadeza”, diz. Na opinião do especialista, os meninos não têm noção da perversidade deste mundo e acabam entrando pela ingenuidade da adolescência e falta de perspectivas. “O virtual faz com que os meninos se soltem mais e fantasiem, ficando mais vulneráveis, porque aparentemente estão sendo aceitos neste mundo marginalizado”, diz.
O problema ocorre também, porque eles não têm uma rede de apoio local para procurar. Na avaliação de Marcos Nascimento, as próprias Ongs e programas sociais de governo precisam ter um olhar menos preconceituoso e homofóbico, com políticas mais definidas. “Precisamos estar mais atentos para os meninos que caem na vida da pior maneira possível, pensar programas que envolvam a sociedade como um todo e tragam mais perspectivas a eles para que se mantenham em seus locais de origem”’, afirma Marcos Nascimento. O psicólogo sugere que mais trabalhos locais sejam realizados como esportes, lazer e cultura para que os adolescentes descubram outros caminhos. Na avaliação do psicólogo Ricardo Castro, é preciso investir mais em pesquisas científicas na área especialmente sobre o tráfico de pessoas e a exploração sexual de meninos e transexuais. “O assunto precisa ser debatido entre os profissionais de comunicação, saúde, educação e também entre os grupos de jovens e adolescentes".
Fonte: Childhood Brasil e Pró-Menino
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