Em apenas um ano, a Safernet, entidade especializada no enfrentamento aos crimes e violações aos direitos humanos na internet, registrou 707 sites de aliciamento e tráfico de pessoas, por meio de denúncias. O relatório (realizado de abril de 2010 a maio 2011) foi encaminhado para a CPI do Tráfico de Pessoas. “A internet é uma grande vitrine para o recrutamento de meninos para a exploração sexual, uma ferramenta para escolher potenciais vítimas”, afirma Thiago Tavares Nunes, diretor presidente da Safernet. “Um dos maiores desafios é conseguir indicadores sobre o tráfico de pessoas gerado pela internet, que parece invisível, porque quase não há documentação sobre o número de rotas e o modo de operar das quadrilhas”.
O especialista cita o caso do aliciamento de meninos que são levados do Nordeste para serem comercializados em São Paulo e em outros países. Para adolescentes vindos de cidades pequenas onde os meninos homossexuais são espancados e excluídos, muitas vezes fazer parte de uma rede de exploração sexual parece um sinal de libertação. “Muitas vezes, entram sem saber que servirão a uma rede criminosa, porque as propostas não são explícitas, pensam apenas que poderão exercer livremente sua sexualidade e acabam entrando num mercado de comércio sexual”, diz o psicólogo Rodrigo Nejm, coordenador da Safernet. “Não é culpa da internet o que está acontecendo, mas da forma como a estrutura criminosa a está utilizando como facilitadora para aliciamentos”, frisa.
Ele cita que, as estratégias para conseguir vítimas são as mais variadas. Recentemente, uma rede especializada em pornografia infantil, com site, se passou por agência de modelos gospel, enviando pessoas que se diziam agentes sociais da Igreja para conseguir aprovação das famílias. Há até casos, investigados em segredo de justiça, de meninos e meninas que acabam entrando em um sistema de escravidão sexual, tornando-se refém com o passaporte confiscado.
Muitas agências de fachada estão no Orkut e outras redes sociais para recrutar adolescentes com promessas de desfiles e campanhas de modelos. Há casos de meninas de classe média, que começam induzidas por amigas que já fizeram programa para comprar uma calça de marca, um perfume mais caro, que não conseguem com a mesada do pai.
Além das promessas de carreira internacional, os adolescentes, principalmente de mais baixa renda, recebem também falsas propostas de casamento. Há também o recrutamento para trabalhar em cruzeiros na Europa com a promessa de ganhar quantias bem acima do mercado.
Segundo diretor da Safernet, Thiago Tavares, não é tão simples tirar uma página de pornografia infantil do ar, especialmente quando o provedor é internacional, porque há necessidade de cooperação de outro país, onde muitas vezes há conflito de leis. “A gente luta contra a falta de estrutura, a repressão a este tipo de crime vem ganhando corpo, mas está longe do ideal”, diz Thiago. “O número de policiais exclusivos para o tráfico de pessoas é muito pequeno e existe uma demanda por melhor estrutura”.
Fonte: Childhood Brasil e Pró-Menino
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