“VEJO UM MUSEU DE GRANDES NOVIDADES”
Reginaldo José da Silva
Quem tem acompanhado os mais recentes andamentos, notícias e análises do cenário político brasileiro, sabe que o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, aparece como uma das maiores forças políticas da atualidade, com capacidade para emplacar um projeto nacional: concorrer à Presidência da República. Não só isto. Eduardo Campos também tem sido analisado como uma promessa de modernização política, sendo chamado, inclusive, como “a cara mais moderna da esquerda brasileira”. É importante entender que o conceito de modernidade, colado na figura de Eduardo Campos como um rótulo, não tem nada a ver com o que as teorias históricas falam sobre modernidade. Trata-se de uma forma de se referir à ideia de “novidade”. Eduardo Campos, segundo essas análises, seria o que há de mais novo na política e na esquerda do Brasil. Posto isto, vale questionar: um governador que capitaneia um modelo de desenvolvimento baseado na tradicional lógica de maior investimento para os setores que beneficiam diretamente os donos do capital e de menor investimento para políticas sociais, pode ser considerado uma novidade? Que novidade existe num governador que tem fome e sede do poder absoluto?
Olhando o governo de Eduardo Campos, falo como Cazuza: “Vejo um museu de grandes novidades”. As novidades de um museu são objetos do passado. Não quero aqui cair no erro absurdo de comparar o governo de “Dudu” a um museu, por profundo respeito ao museu. Em um museu, as novidades, mesmo sendo objetos do passado, fazem a gente reatualizar, ressignificar o presente. No governo de “Dudu”, as “novidades” nos fazem lembrar daquilo que de pior existiu na política em tempos passados, mas que ainda persiste. Basta lembrar de como o referido governo trata os adolescentes e jovens que cumprem medidas socioeducativas por terem cometido atos infracionais: em 2012 morreram sete deles dentro das unidades de internação, sob a tutela do governo, que deveria ter investido na ressocialização desses jovens. Coisa dos Códigos de Menores dos anos de 1920 e 1970. Olhando agora para o litoral sul de Pernambuco, o que vemos? Os investimentos foram todos concentrados para dar infraestrutura às industrias e condomínios de luxo que lá se instalaram, enquanto os casos de exploração sexual de crianças e adolescentes cresceram na mesma região, sendo um problema tratado pelo governo de forma paliativa. E a educação? Dizem que Eduardo está fazendo muito pela educação. Sim, está fazendo. Está fazendo muito pelas “escolas de referência”. As “escolas de referência” são uma febre aqui em Pernambuco. São escolas públicas da rede estadual que recebem todo o investimento possível para servirem de peça de propaganda do governo, enquanto que a maioria das escolas continua com velhos problemas: falta de professores, de qualidade de ensino, de infraestrutura...
São muitas as “novidades” do governo Eduardo Campos. Mas, a “novidade” mais recente aconteceu há poucos dias: “Dudu” deu uma ordem expressa ao prefeito do Recife, Geraldo Júlio, seu afilhado político. A ordem foi para que o excelentíssimo prefeito exonerasse todos os gerentes de educação infantil e todas as diretoras das creches. Certamente o governador deve estar querendo colocar a sua cota na prefeitura. Eu já desconfiava que “Dudu” seria o manda-chuva da prefeitura. Agora tenho certeza. Geraldo Júlio, um ilustre desconhecido, eleito no primeiro turno pegando empréstimo da força política do governador, não passa de uma marionete. Este fato me fez lembrar os tempos dos impérios da antiguidade, quando existiam os imperadores e os vassalos. Em um império, o imperador era o chefe supremo; os vassalos er am seus subordinados, que governavam as regiões dominadas pelo império e não davam um passo sem a ordem do imperador.
Os noticiários e os analistas políticos andam dizendo que Eduardo Campos quer ser presidente da República. Discordo. Eduardo Campos não quer ser presidente, quer ser imperador. “Museu de grandes novidades”, com todo respeito aos museus.
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