segunda-feira, 8 de agosto de 2011

COMO INVESTIR PARA MELHORAR O APRENDIZADO

Viviane Senna
Presidente do Instituto Ayrton Senna e coordenadora da equipe técnica do movimento Todos pela Educação.

A educação brasileira fez progressos importantes em termos de resultados alcançados e políticas implementadas. Segundo o Banco Mundial, somos o país que mais rapidamente aumentou a escolaridade média da população entre 1990 e 2010 (de 5,6 para 7,2 anos), tomando o recorde que era da China. Somos também um dos países com o maior avanço no aprendizado dos alunos, medido pelo Pisa, no período de 2000 a 2009. Implementamos e institucionalizamos instrumentos e processos de avaliação de resultados. Mas, como todos sabemos, ainda há um longo percurso pela frente, com desafios fundamentais a nos exigir ações mais objetivas e precisas.
Acabamos de dar um passo importante: o movimento Todos pela Educação e o Instituto Ayrton Senna lançaram um mapeamento da produção científica mundial sobre os fatores que impactam a aprendizagem dos alunos.
O trabalho organiza de forma inédita os resultados de 165 estudos acadêmicos brasileiros e estrangeiros, selecionados por critérios técnicos rigorosos entre cerca de 600 inicialmente consultados.
Conduzido por Ricardo Paes de Barros e mais de 20 pesquisadores de renomadas universidades brasileiras, “Caminhos para Melhorar o Aprendizado” analisa políticas que possam contribuir para o alcance da Meta 3 do movimento, a de ter todo aluno com aprendizado adequado à sua série.
Indo além do senso comum e dos achismos, quebrando alguns mitos, o trabalho aponta, por exemplo, que os alunos dos melhores professores aprendem até 70% mais em cada ano. É óbvio que o bom professor ensina mais e melhor, mas agora podemos saber a magnitude dessa desigualdade, que prejudica exatamente as crianças e os adolescentes menos favorecidos. O trabalho quantifica o alto impacto e ressalta a importância de políticas que aumentam a exposição do estudante ao conhecimento: cumprimento do calendário escolar, aumento da jornada, reforço escolar, redução do absenteísmo de professores e alunos e redução do número de alunos por turma.
“Caminhos” tem o refinamento de indicar, por exemplo, que o impacto da redução do tamanho das turmas é maior nas séries iniciais do que nas finais, dando ao gestor a opção de focalizar melhor os investimentos. Se o gestor tem o desafio de recuperar alunos muito defasados, aumentando a proficiência para reduzir rapidamente as desigualdades educacionais, saberá que uma estratégia de baixo custo e alto impacto é a formação de turmas mais homogêneas.
Do ponto de vista cognitivo, essa política pode elevar em até 35% o aprendizado do aluno ao longo do ano, mas o gestor deve também levar em conta equilíbrio entre o aumento da proficiência e os objetivos sociais mais amplos da educação. O trabalho aumenta a gama de informações à disposição do decisor e dá subsídios para nova geração de politicas públicas, baseadas em evidências, mais focalizadas e comprometidas com resultados.
Também oferece base para a produção de novos e necessários estudos acadêmicos, que possam contribuir com a constante melhoria dessas políticas, conforme apontou James Heckman, Nobel de Economia, ao conhecer o trabalho.
Os aprendizados e as ressalvas necessárias para seu bom uso estão disponíveis no site www.paramelhoraroaprendizado.org.br , apresentados de modo prático para quem está envolvido na construção de uma educação pública em que os alunos possam efetivamente aprender.
*Artigo publicado originalmente na Folha de S.Paulo, dia 06/06/2011.

Nenhum comentário:

Postar um comentário