Homens, mulheres (inclusive grávidas) e crianças consomem cola, crack e maconha livremente na Rua do Hospício
Um cenário de degradação humana chama a atenção e choca os comerciantes, pedestres
e motoristas que passam diariamente pela Rua do Hospício, no Centro do Recife. Adultos,
adolescentes e até crianças perambulam sujos, alguns deles seminus, pelas calçadas cheirando
cola e fumando crack e maconha livremente. À luz do dia, homens e mulheres, que mais
parecem zumbis, caminham com tubos de produto tóxico nas mãos para saciar o vício. A poucos
metros, há um posto fixo da Polícia Militar de Pernambuco. Mesmo assim, ninguém parece
inibido com a presença do efetivo de plantão.
Atormentado pela formação de uma verdadeira “cracolândia” aos olhos do poder público,
um comerciante da localidade decidiu procurar apoio da Secretaria de Defesa Social
(SDS), encaminhando material com uma série de fotografias de flagrantes do consumo dos
entorpecentes. De acordo com ele, porém, não houve uma ação efetiva para acabar com o caos.
Ontem, por meio do aplicativo de celular WhatsApp, o novo canal de diálogo do Diario com o
leitor, ele enviou imagens para denunciar a situação.
O comerciante, que preferiu não se identificar, relatou que o problema se agravou desde
junho do ano passado. Segundo ele, há dias em que mais de 20 pessoas, de todas as idades, se
espalham pela rua consumindo as drogas. “Desde novembro estou tirando fotos”, contou.
Entre as imagens recebidas pelo Diario, uma mulher grávida aparece cheirando cola, no meio
da rua, próximo a taxistas e vendedores da localidade. “No sábado passado, grupos fumavam
maconha tranquilamente. Havia gente no posto policial, mas ninguém fez nada. A gente chama
os PMs para eles realizarem abordagens, mas quando eles vão, as drogas já foram consumidas”,
afirmou o comerciante, dizendo que o movimento de clientes nas lojas da Rua do Hospício vem
perdendo o fôlego por conta do medo.
Casarões e escola
O problema das cracolândias na RMR não se resume ao Centro da Cidade. No mês passado, por
exemplo, o Diario denunciou o consumo de entorpecentes em casarões abandonados em bairros
nobres da Zona Norte do Recife. Um deles fica na esquina da Avenida José Bonifácio com a Rua
Padre Anchieta, um dos locais mais movimentados da Torre. Antes, também denunciamos o
consumo de drogas no terreno de uma escola pública de Peixinhos, em Olinda.
Problema social e de segurança
O Diario entrou em contato ontem à tarde com a Secretaria de Defesa Social (SDS) para pedir
um posicionamento sobre o caso. A reportagem foi informada de que cabe à Polícia Militar de
Pernambuco, subordinada ao órgão, responder sobre o assunto. Já o comandante do 16º Batalhão
da PM, tenente-coronel Jailton Pereira, afirmou que “a questão de consumo de drogas não é um
problema da polícia”.
“O nosso trabalho é voltado para a repressão ao tráfico de drogas. Só podemos tomar uma
providência quando esses usuários praticam algum tipo de delito. Caso contrário, existem os
programas de prevenção do governo estadual e da prefeitura”, pontuou o tenente-coronel.
Segundo ele, duas viaturas da Patrulha do Bairro fazem rondas na Boa Vista, além de equipes de
PMs motorizados.
A prefeitura mantém oito unidades do Centro de Referência da Assistência Social (Cras), que
acolhem usuários de drogas e álcool, mas essas pessoas não podem ser retiradas da rua à força.
O comandante do 16º BPM garantiu ainda que, mesmo assim, pedirá ao serviço de inteligência
da SDS um levantamento do caso para que o mesmo seja encaminhado às câmaras técnicas para
avaliação de providências a serem tomadas para diminuir a incidência do problema.
Fonte: Diário de Pernambuco
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