Algumas tecnologias são como salsichas – consumimos sem saber exatamente de que são feitas, e preferimos não pensar nisso enquanto saboreamos o cachorro-quente. O artigo de Tarleton Gillespie que abre a edição mais recente da revista poliTICs trata deste fenômeno, em sua análise crítica e bastante razoável sobre as listas de tendências (trends) do Twitter – e sobre evidente ausência de neutralidade dos algoritmos que estão por trás delas.
Gillespie alimenta uma reflexão necessária, abordando temas como a censura no Twitter e os verdadeiros interesses que se escondem por trás de tecnologias aparentemente "neutras".
A edição continua com outra pergunta que não quer calar: o que será da imprensa norte-americana e da Primeira Emenda à Constituição dos Estados Unidos, se o WikiLeaks for processado pelo governo daquele país? A questão é explorada pelo ativista da Electronic Frontier Foundation, Trevor Timm – que também faz uma análise do impacto do episódio Cablegate no jornalismo de seis países considerados centrais para a política externa dos EUA.
Carlos Afonso, diretor executivo do Instituto Nupef e membro do Comitê Gestor da Internet no Brasil apresenta um detalhado relato sobre a criação do CGI. br e sua história, bem como sobre seu funcionamento. Seu artigo explicita desafios prementes com relação ao futuro da entidade, especialmente no que diz respeito às decisões sobre a alocação dos recursos arrecadados com a distribuição de nomes de domíno “.br” e endereços IP. Outra reflexão inadiável.
A encruzilhada em que a sociedade civil se encontra, em relação aos debates de políticas e governança da Internet é o foco do texto de Avri Doria – uma experiente ativista que acompanha os principais fóruns políticos e técnicos sobre a Internet desde sua criação. É importante o alerta que Avri faz: a sociedade civil, desarticulada, vem perdendo força na defesa de suas posições. É hora de uma virada.
Finalizando esta edição, temos a oportunidade de entender um pouco melhor o quanto anda sombrio o panorama para os usuários de Internet na Índia, onde o governo exerce censura através de leis que, alegadamente, protegeriam as pessoas de conteúdos “impróprios” e “prejudiciais” aos cidadãos, além de estimular práticas questionáveis de “autorregulação” entre os intermediários de Internet. Pranesh Prakash, do Center for Internet and Society em Bangalore, mostra que, assim como as salsichas e os supostos algoritmos “neutros”, a autorregulação indiana também é difícil de engolir.
Confira a poliTICs online: http://www.politics.org.br/?q=node/104
Fonte: RETS
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