Há poucos dias uma estudante de 5 anos de idade morreu ao cair de um veículo que fazia
transporte escolar em Araripina, no Sertão de Pernambuco. Em junho, a vítima da mesma
insegurança e irresponsabilidade foi um menino de 9 anos de idade, que caiu de um veículo, em
circunstâncias semelhantes, no município de São João, no Agreste Meridional de Pernambuco. No
primeiro caso, o motorista do transporte irregular chegou a socorrer a criança. No segundo caso,
nem isso.
Essas tragédias recorrentes escandalizam quando se toma conhecimento de que o nosso País
tem dois programas de transporte de estudantes: o Caminho da Escola e o Programa Nacional de
Apoio ao Transporte Escolar. O primeiro destina dinheiro, muito dinheiro, do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social, para a compra - pelos Estados e municípios - de ônibus,
miniônibus e micro-ônibus zero quilômetro. O segundo programa se propõe a garantir o acesso e a
permanência nas escolas de alunos do ensino fundamental público residentes em área rural.
As tragédias não surpreendem, contudo, instituições como o Ministério Público Estadual e
Ministério Público Federal em Pernambuco, que já detectaram, faz muito tempo, incontáveis
irregularidades no transporte de estudantes, do que resultou audiência pública em Serra Talhada
a fim de serem tomadas providências para proibir o uso irregular de transporte escolar pelas
prefeituras do interior. Sabe o Ministério Público que crianças são transportadas em carrocerias
abertas de camionetes e carrocerias de caminhões, como já foi denunciado pela imprensa em
outras ocasiões.
Se não surpreende a irregularidade, se ela é recorrente e causa tragédias, pergunta-se o que falta
para uma ação enérgica e civilizatória - pois numa sociedade civilizada é impensável a morte
de uma criança causada por irresponsabilidade no trato de um serviço público de tamanha
importância, como é a educação. Como deixar impunes agentes públicos que transformam ônibus
escolares em transporte para doentes do interior para a capital? É certo que ambas as atividades
são de extraordinária importância, mas cada qual deve ter seus instrumentos próprios, suas
necessidades e o atendimento oficial. Não pode é tirar o que é do estudante para dar ao doente e
vice-versa.
O que se questiona é como tolerar que dirigentes municipais transformem licitações para o
transporte escolar rural em arranjo de compadres, quase sempre visto pela comunidade como
retorno generoso a apoios em campanhas eleitorais, quando não permuta: transporte o eleitor
hoje que amanhã, quem sabe, pode ser a vez de transportar estudante, com remuneração
garantida. Torcemos para que esse tipo de cenário não passe de folclore. Ou apenas coisas do
passado. E que não mais se registre a morte de uma criança que só queria estudar e foi vítima da
irresponsabilidade.
Fonte: Jornal do Commercio
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