segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Ex-infrator agora ajuda a combater crimes e irregularidades

Aluno do Programa Trampolim, da Prefeitura do Recife, Eliel se afastou do submundo do roubo e do tráfico para ganhar a vida com dignidade

Do JC Online

Eliel ganha a vida monitorando as câmeras instaladas nas ruas do Recife. Antes do programa, o jovem passava a maior parte do tempo em casa, onde guarda porta-retrato com a foto do irmão assassinado
 / Foto: Edmar Melo/JC Imagem

Eliel ganha a vida monitorando as câmeras instaladas nas ruas do Recife. Antes do programa, o jovem passava a maior parte do tempo em casa, onde guarda porta-retrato com a foto do irmão assassinado

Foto: Edmar Melo/JC Imagem


Ele cresceu vendo a violência de perto, entrou no mundo do crime aos 15 anos, teve duas passagens pela Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase), rodou por três presídios, se meteu em rebelião. Poderia ser mais um entre tantos jovens com o destino sentenciado pelo crime. Até que o Programa Trampolim, lançado em 2 de outubro pela Prefeitura do Recife (PCR), lhe abriu as portas. Formando da primeira turma, Eliel Benetan Barros, 24 anos, foi da cadeia à dignidade. Atua, há uma semana, no Centro de Operações da PCR monitorando câmeras espalhadas pela cidade. Está lá, por ironia, para coibir o que acontece de errado. Mudou de lado. Mudou de vida. Dos 40 alunos, apenas um desistiu.

Eliel trabalha na sala de videomonitoramento com mais quatro colegas do Trampolim. Outros 24 começaram na semana passada a atuar como orientadores de trânsito nos principais corredores viários e sete estão sendo capacitados para atender clientes do Shopping Recife. Todos com carteira assinada, vale-transporte e tíquete-refeição. Além de um jovem que abandonou o projeto antes do término do curso, um entrou para o Programa de Proteção a Testemunhas e duas grávidas se encontram no final da gestação. Os 36 restantes foram aproveitados. Deram um chute na falta de perspectivas.

“Qualquer programa social tem sempre evasão, mas o índice foi muito baixo. Essa gente precisava de uma chance e de uma coisa mais importante: um olhar atencioso”, analisa o secretário de Segurança Urbana, Murilo Cavalcanti. “O Trampolim trabalha com um público de alto risco, os egressos da Funase. Nosso objetivo é evitar que esses meninos sejam mortos e, para isso, precisamos dar oportunidade a eles”, complementa o secretário-executivo da pasta, Eduardo Machado.

O coordenador do Centro de Operações do Recife, inspetor Willames Viana, tem a responsabilidade de avaliar o trabalho dos egressos da Funase. Ele ressalta o empenho e a dedicação dos jovens, incluindo Eliel, cuja jornada diária de trabalho vai das 16h às 22h. “Eles estão sempre dispostos a aprender e querendo acertar. Ficam ligados nas câmeras e repassam ao supervisor se observam qualquer atitude suspeita”, comenta.



A vida de Eliel se divide em antes e depois do Trampolim. O jovem que entrou no programa tinha medo de mostrar o rosto. Havia passado pela Funase, Centro de Observação Criminológica e Triagem Professor Everardo Luna (Cotel), Presídio Aníbal Bruno e Penitenciária Barreto Campelo. Assaltava, usava drogas, vivia com a morte fazendo sombra. Estava livre havia três meses quando foi cadastrado para participar do programa da prefeitura.

O Eliel de hoje é altivo. Não só mostra o rosto como faz questão de sorrir. Ainda revela timidez nas palavras, mas não se furta a falar. “Sei que não é todo mundo que tem a oportunidade que tive. Por isso, vou fazer de tudo para aproveitar”, frisa.

A tentação, vez por outra, bate à porta. O jovem admite que já recebeu ofertas para retornar à criminalidade, ao tráfico de drogas, aos roubos. Eliel, no entanto, está firme. Garante que não troca mais o suor pela facilidade. “A gente tem que se segurar. Estou firme”, ressalta.

Jocitônio José Barros da Silva, 20, irmão de criação de Eliel, queria ter tido a mesma sorte. Jogado no lixo ainda bebê, foi criado como filho pela tia e viu a mãe biológica ser assassinada na guerra do narcotráfico. Vagueou por unidades socioeducativas e prisionais, foi abusado sexualmente dentro da Funase e imaginou a redenção ao lado de Eliel. Foram inscritos juntos no Programa Trampolim. Mas Jocitônio não pôde sonhar. Estava ameaçado de morte. Uma semana depois de cadastrado, foi executado. Eliel teve de seguir sozinho. “É por ele que estou aqui. Queria meu irmão trabalhando comigo”.

Fonte: JC


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