quinta-feira, 18 de abril de 2013

DESCULPE EU PEDIR PARA ACABAR COM O INFERNO...


“DESCULPE EU PEDIR PARA ACABAR COM O INFERNO...”

Reginaldo José da Silva

O município de Milagres, no sertão do Ceará, assim como os demais municípios do semiárido nordestino, é uma das vítimas da maior seca dos últimos quarenta anos. Estava há um ano e três meses sofrendo com a falta de chuvas. Na madrugada da última sexta-feira, 05 de abril, choveu. Mas, o que deveria ser um momento de festa e celebração, virou uma catástrofe. A chuva foi forte demais, fez transbordar açudes, inundou ruas, derrubou casas e matou um jovem. Recebi esta notícia de uma educadora social que trabalha numa ONG que assessoro na referida cidade. Lembrei-me imediatamente da Súplica Cearense de Waldeck Artur de Macedo, imortalizada na voz de Luiz Gonzaga:

Oh! Deus, perdoe este pobre coitado
Que de joelhos rezou um bocado
Pedindo pra chuva cair sem parar

Oh! Deus, será que o senhor se zangou
E só por isso o sol se arretirou
Fazendo cair toda a chuva que há

Senhor, eu pedi para o sol se esconder um tiquinho
Pedi pra chover, mas chover de mansinho
Pra ver se nascia uma planta no chão

Oh! Deus, se eu não rezei direito o Senhor me perdoe,
Eu acho que a culpa foi
Desse pobre que nem sabe fazer oração

Meu Deus, perdoe eu encher os meus olhos de água
E ter-lhe pedido cheinho de mágoa
Pro sol inclemente se arretirar

Desculpe eu pedir a toda hora pra chegar o inverno
Desculpe eu pedir para acabar com o inferno
Que sempre queimou o meu Ceará

Mas, sabemos muito bem que a culpa, tanto pela catástrofe da seca quanto pela catástrofe da chuva, não é de Deus nem do pobre. É de quem deveria estar trabalhando pelo bem comum, mas que decide se preocupar unicamente com as suas posições privilegiadas, seus cargos políticos, suas riquezas. Dos que, apegados a esta preocupação, não sentem nenhuma dor em destruir o meio ambiente em nome dos seus lucros financeiros. Dos que, preocupados com os seus bolsos, não dão a mínima para os que vivem nas periferias e que são vítimas diretas da seca e das chuvas.
Para os pobres, a seca e a chuva forte que castigaram Milagres foram catástrofes. Para os “nobres” senhores da política e da riqueza, representam excelentes oportunidades para exercer o clientelismo, o assistencialismo e a manutenção dos pobres no regime de dependência e escravidão. Mas, escravos também se rebelam. Que venha, então, a rebelião.